A
fala e escrita são duas modalidades da
língua. A primeira é marcada pela matéria fônica percebida pela audição; a
segunda, por sinais gráficos convencionais – letras, acentos gráficos e sinais
de pontuação, principalmente. Além da diferença material, as modalidades terão
particularidades derivadas das diferentes condições de produção.
CUIDADO!
INFORMAÇÕES
ENCONTRADAS EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA
A
fala é mais informal, espontânea, não planejada e até menos sujeita às
normas da língua-padrão;
A
escrita é mais formal, complexa e dependente das regras da gramática
normativa.
SERÁ MESMO? FUJA DAS
ALTERNATIVAS DE QUESTÕES DE CONCURSOS NAS QUAIS EMPREGAM-SE ESSAS CRENÇAS!
Vamos analisar as
seguintes situações:
1
– a mãe escreve um bilhete, às pressas, para a filha e o coloca na porta da
geladeira;
2
– um adolescente digita uma mensagem cheia de abreviações e a envia para um
colega por meio de um aplicativo de mensagens instantâneas. Nesses dois casos,
podemos dizer que a escrita é formal e redigida conforme a norma culta?
Outras situações:
1
– um advogado, defendendo um cliente, discursa para tentar convencer o corpo de
jurados da inocência do réu;
2
– o diretor executivo de uma empresa esclarece determinado tema em uma
audiência pública.
Esses
dois últimos casos confirmariam a crença de que a fala é sempre informal,
descuidada e não planejada?
Conclusões:
1
– A oralidade nem sempre é marcada pela informalidade e pela despreocupação com
aspectos formais e gramaticais. Há diversas práticas profissionais nas quais a
mediação por meio da língua oral se dá de forma planejada, estruturada e
complexa;
2
– A oralidade e a escrita são práticas e usos da língua com especificidades e condições distintas de realização, mas não
suficientemente opostas para
caracterizar dois sistemas linguísticos.
3
– A fala é adquirida naturalmente em contextos informais do dia a dia, enquanto
a escrita, em sua faceta institucional, se adquire em contextos formais: na
escola. Daí a escrita ser prestigiada como um bem cultural que deve ser sempre
desejado.
DIFERENÇAS, SIM;
OPOSIÇÃO, NÃO!
A FALA
A fala é uma prática social de interação para fins
comunicativos que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados
na realidade sonora, indo desde uma realização informal à mais formal nos mais
variados contextos.
PRINCIPAIS
TRAÇOS CARACTERÍTICOS DA LINGUAGEM FALADA
Presença de truncamentos, hesitações, repetições e retomadas,
correções que não aparecem no escrito; a possibilidade de se usar uma série de
recursos do nível fonológico que no escrito não funcionam (entonação, ênfase de
termos ou sílabas, duração de sons); as reações do interlocutor são “ao vivo”;
é possível também impedir que alguém tome o turno antes que se termine a fala;
e existe o uso de marcadores conversacionais (Ah!, né?, certo?) com
maior frequência.
Exemplo:
eu acho um fato
interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né...
que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô...
materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu...
minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho...
tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco...
e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários
cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto
de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão
entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era
exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil
e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer...
namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico...
porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito
interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se
conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de
casados…
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus,
discurso & gramática: a língua falada
e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998
MAS COMO ESSE ASSUNTO
CAI EM CONCURSO?
QUESTÃO 01- (SEDUC-PA) A frase que contém uma
marca de oralidade é:
A) O sertanejo tem que falar cultura.
B) (...) talvez eu possa fazer algumas
armadilhas para que vocês me façam perguntas (...)
C) É um processo que não está fundado na
palavra escrita.
D) Mas, como sou sertanejo, e filho de uma
família metade comunista metade reacionária, né?
E) A fala e a escrita são duas modalidades da
língua portuguesa.
QUESTÃO 02 – (IDEM) – Observe uma pessoa
contando para outra o procedimento para usar a nova impressora:
“Primeiro a gente pega as folhas e põe aqui,
nessa parte de baixo. Daí, a gente liga esse botãozinho e dá o comando no
computador. Daí a gente fica esperando um pouco e logo ela imprime. É
superfácil.”
Quanto ao uso de “a gente”, responda:
A) É o mais adequado à língua oral informal e à
língua escrita formal por ser uma forma de dizer nós.
B) Está adequado à língua oral formal, e também
à língua escrita formal por querer dizer nós.
C) Está adequado tanto à língua oral informal
quanto à língua escrita formal porque refere-se a todos nós.
D) Está adequado à norma culta da língua
portuguesa, mas inadequado à linguagem coloquial.
E) Está adequado à língua oral informal por ser
uma forma usada de se dizer nós, mas está inadequado à língua escrita formal, a
qual privilegia o uso de nós.
(DEFENSORIA PÚBLICA – PARANÁ - 2017)
O menino, de Chico Anysio
Vou fazer
um apelo. É o caso de um menino desaparecido.
Ele tem 11
anos, mas parece menos; pesa 30 quilos, mas parece menos; é brasileiro, mas parece
menos.
É um menino
normal, ou seja: subnutrido, desses milhares de meninos que não pediram pra
nascer; ao contrário: nasceram pra pedir.
Calado
demais pra sua idade, sofrido demais pra sua idade, com idade demais pra sua
idade. É, como a maioria, um desses meninos de 11 anos que ainda não tiveram
infância.
Parece ser
menor carente, mas, se é, não sabe disso. Nunca esteve na Febem, portanto, não
teve tempo de aprender a ser criança-problema. Anda descalço por amor à bola.
Suas roupas
são de segunda mão, seus livros são de segunda mão e tem a desconfiança de que
a sua própria história alguém já viveu antes.
Do amor não
correspondido pela professora, descobriu que viver dói. Viveu cada verso de
"Romeu e Julieta", sem nunca ter lido a história.
Foi Dom Quixote
sem precisar de Cervantes e sabe, por intuição, que o mundo pode ser um inferno
ou uma badalação, dependendo se ele é visto pelo Nelson Rodrigues ou pelo
Gilberto Braga.
De seu,
tinha uma árvore, um estilingue zero quilômetro e um pássaro preto que cantava
no dedo e dormia em seu quarto.
Tímido até a ousadia, seus silêncios grita nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.
Tímido até a ousadia, seus silêncios grita nos cantos da casa e seus prantos eram goteiras no telhado de sua alma.
Trajava, na
ocasião em que desapareceu, uns olhos pretos muito assustados e eu não digo
isso pra ser original: é que a primeira coisa que chama a atenção no menino são
os grandes olhos, desproporcionais ao tamanho do rosto.
Mas usava
calças curtas de caroá, suspensórios de elástico, camisa branca e um estranho
boné que, embora seguro pelas orelhas, teimava em tombar pro nariz.
Foi visto
pela última vez com uma pipa na mão, mas é de todo improvável que a pipa o
tenha empinado. Se bem que, sonhador de jeito que ele é, não duvido nada.
Sequestrado,
não foi, porque é um menino que nasceu sem resgate.
Como vocês
veem, é um menino comum, desses que desaparecem às dezenas todas os dias.
Mas se alguém souber de alguma notícia, me
procure, por favor, porque... ou eu encontro de novo esse menino que um dia eu
fui, ou eu não sei o que vai ser de mim.
Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/um-autorretrato-inedito-de-chico-anysio-4428439#ixzz4yMuJZRCJ
QUESTÃO 01 – Considerando-se o fragmento “desses milhares de meninos que não pediram pra nascer” à luz da modalidade escrita e falada da língua, pode-se constatar o emprego da variação linguística:
Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/um-autorretrato-inedito-de-chico-anysio-4428439#ixzz4yMuJZRCJ
QUESTÃO 01 – Considerando-se o fragmento “desses milhares de meninos que não pediram pra nascer” à luz da modalidade escrita e falada da língua, pode-se constatar o emprego da variação linguística:
A) Regional
B) Literária
C) Coloquial
D) Culta
E) Técnica
QUESTÃO 02 – Além do humor e lirismo, qual é a outra finalidade
cumprida no texto “O menino”?
A) Fazer uma crítica ao descaso com
que as crianças são tratadas por certas famílias e pelas autoridades.
B) Caracteriza a identificação da
pessoa desaparecida através de traços físicos para serem encontradas por seus
familiares.
C) Reconhece que a situação do
garoto diz respeito à família e não às autoridades.
D) Mostra que situações como a do
menino desaparecido é um fato que preocupa as autoridades.
E) Apresenta o gênero textual
caracterizado como descrição.
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