quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

TEXTO SOBRE O DOCUMENTÁRIO “O HOLOCAUSTO E OS CRIMES DA SEGUNDA GUERRA”


Nazismo: quando há justificativa para matar
O primeiro homicídio ocorrido na Bíblia, citado no documentário sobre a ascensão e queda do nazismo na Alemanha durante o século XIX, serve para iniciarmos uma reflexão sobre as atrocidades cometidas por um homem, Adolf Hitler, consequentemente, por uma nação que acreditou ser superior às demais. Quando Caim praticou homicídio contra Abel, o comportamento do criminoso não foi diferente dos nazistas no momento em que foram julgados no final do século XX: tentaram esconder o crime ou mesmo recorreram à presunção da inocência com tamanha frieza e cinismo ao negar uma ação executada contra à vida humana: um direito fundamental que deve ser assegurado a todos independente de qualquer distinção.
 Sobre os fatos cometidos pelos nazistas, apenas podemos comentar, haja vista que nada podemos fazer para mudar essa lamentável história da humanidade, no entanto, podemos refletir sobre até onde o ser humano pode chegar a fim de se tornar “o lobo do próprio homem”, conforme sustentou Thomas Hobbes. Caim tirou a vida do próprio irmão, de alguém que morava e dividia o mesmo espaço. No ambiente que foram inseridos era para reinar o amor, todavia, a inveja, o ciúme, enfim, o irracionalismo do instinto aflorou no impulso que proporcionou a tragédia iminente.
Isso nos leva a crer nas palavras de Rogério Greco (2017, p.12): “O ser humano é mau. Mata, estupra, rouba, calunia, enfim, pratica toda sorte de iniquidades”. Essa maldade do ser humano, inerente à própria natureza, foi explicitada no documentário “Coleção Holocausto e os Crimes da Segunda Guerra”. Das simples torturas até a criação de câmaras de gás, do senso comum até o uso do conhecimento científico para matar, a maldade entranhada na mente de uns poucos, somadas aos contextos políticos e econômicos, propagou as cenas mais cruéis da história da humanidade considerada evoluída. Explicaremos essa consideração: Quando o ser humano vivia nas sociedades primitivas, ele seguia seus instintos de sobrevivência, porque ainda não tinha o controle da racionalidade. A ciência, alguns difundiram, além de tirar o ser humano da ignorância, conseguiria gerar ao ser humano a felicidade, não foi à toa que às evoluções tecnológicas surgidas no final do século XIX e início do século XX trouxeram certo conforto e soberba a alguma minoria que poderia desfrutar da face evoluída da ciência: a tecnologia.
O cientista pode até comemorar que criou o rádio, o telefone, o automóvel, por outro lado, não pode negar que criou também a capacidade de matar o próximo de maneira mais eficiente, como vimos nas montanhas de corpos formadas por tiro nas cabeças das vítimas, bem como no uso de produtos e experimentos químicos como armas mortais. Além disso, houve os experimentos para desenvolver uma raça pura, sem êxito, mas o ser humano, nesse contexto cobaia e moribundo, estava subjugado por um pensamento que precisa ser combatido: o da generalização. Até que ponto a generalização e o estereótipo de outras culturas não podem provocar um holocausto pior? Para a cultura judaica, o holocausto era uma cerimônia na qual os judeus sacrificavam um animal para invocar a presença de Deus. Quem os nazistas invocaram quando praticaram o sacrifício de inúmeros judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e demais pessoas consideradas inferiores? Quando generalizaram essas etnias como inferiores encontraram nisso justificativa para difundir a ideia de uma superior: a ariana.
Como pode uma pessoa ou melhor um grupo de pessoas chegar a esse ponto de eximir os direitos fundamentais do ser humano e ainda encontrar defesa para justificar uma superioridade? Pode até ser sustentada pela teoria da seleção natural de Charles Darwin, em seu livro sobre as espécies animais, como alguns estudiosos alegam sobre a origem da atitude de Adolf Hitler. Mas preferimos a voz de Rousseau quando afirmou que a força não produz direitos. Mais ainda, o ser humano pode até ser um animal irracional, contudo é possível evoluir e tornar-se um ser dotado de razão, de noção do bem e do mal, possuir senso de justiça, por isso, devemos impedir que novos diários de Ane Frank sejam criados. Como? Com o empenho para o que foi proclamado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em Paris – direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade – seja ecoado nas diferentes culturas e nações mundiais.
Quando presenciamos as cenas do inferno de Dante mostradas no documentário, sentimos simultaneamente compaixão e rancor. Amor pelo maltratado, pelas pessoas mortas sem dó nem piedade, melancolia pela covardia de uns em detrimento do sofrimento de outros. Mas também sejamos sinceros: sentimos raiva, ódio dos nazistas, tanto que aflora em nós não só um sentimento de justiça e vingança como a vontade de eliminar todos os nazistas, logo, somos impulsionados a nos sentir todos contra uma outra nação. Daí provém o desejo latente de queremos sucumbi-la: o que nos torna diferente de Adolf Hitler? Ele deixou o instinto natural vencer e convencer outros a cometer homicídios qualificados. Nós não podemos, isso não é tarefa apenas dos Direitos Humanos, motivar o crescimento da vingança, mas da tolerância, do respeito pela diferença, resgatar aquilo que Caim renunciou embora estivesse em seu irmão Abel: a caridade pelo próximo.
O que os nazistas fizeram foi uma guerra declarada contra uma cultura diferente, uma afronta à laicização do Estado e, por conseguinte, ao Estado Democrático de Direito. Ninguém assumiu a culpa pela atitude dos nazistas ou fez todos os esforços para impedir as atrocidades. Ou melhor, o único que fez foi capturado pelos russos e também pelo anonimato que está relacionado com as pessoas as quais lutam pelos direitos humanos. Disso surge outra questão que não é possível desdobrar neste documento, entretanto é importante colocar em discussão como luz a futuros debates: Hitler, a encarnação do mal, é lembrado e ainda recentemente tem fãs pelo mundo, já o jovem que resolveu sozinho libertar os judeus foi preso e ninguém se importou com a vida dele. A questão é: Por que o mal é propagado e o bem geralmente fica no anonimato? Podemos desdobrá-las em outras não menos importantes e quem sabe até relacionadas à primeira: Por que preferimos ver mais cenas de violência na mídia enquanto as notícias boas, quando existem, comentamos, não damos valor? Muitas questões para futuros debates.
Deus sabia o que Caim tinha feito. Mas não pôde intervir porque concedeu livre arbítrio ao ser humano. Os outros países poderiam cedo evitar a perpetuação dos atos nazistas, mas só o fizeram depois de ameaçados belicamente, sendo que a prioridade não foram as vidas sucumbidas, sim questões consideradas maiores como o poder político. Em outras palavras, a favor de um bem maior, a vida humana, os outros estados poderiam interferir respeitando a soberania das diferentes nações em prol principalmente dos direitos humanos os quais são anteriores e superiores a qualquer Estado: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, entre outros.
Quando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, resolveu autorizar, junto com a França e o Reino Unido, bombardeio na Síria para acabar com o terrorismo, até que ponto não está também dizendo que todos os sírios são terroristas? Mais ainda, eles estão justificando uma ação militar sem levar em consideração que existe uma parcela da sociedade na Síria a qual não tem relação nenhuma com os responsáveis pelo lançamento de armas químicas. Quando o povo do Rio de Janeiro aplaude uma intervenção militar para acabar com a criminalidade crescente, até que ponto não está também justificando o uso da força para garantir a segurança e, inclusive, o da morte?
De líder a liderados, verificamos que o diálogo vem perdendo espaço e a intolerância crescendo cada vez mais. Esqueceram que violência gera mais violência, não que estejamos inspirados em senso comum, mas em dados concretos, pois no site da revista Veja é possível perceber que a violência não diminuiu com a intervenção do exército na cidade carioca, ao contrário, vem aumentando com o consequente índice de morte de civis e militares. Quando Hitler achou uma justificativa para cometer atrocidades, vimos o pior. A história está aí para aprendermos com os erros de nossos antepassados, sejam líderes ou liderados, se esquecermos, em pouco tempo estaremos matando o nosso irmão porque ele é terrorista, é bandido, é homossexual, é religioso, é diferente.
O homem não é só lobo do homem, mas também bom e livre por natureza, o que ele precisa é de um Estado Democrático de Direito que assegure e proteja os direitos fundamentais a todos. Mas do que isso, um Estado que estimule a tolerância, o amor e o diálogo incansavelmente antes que seja preciso surgir outra tragédia para de novo ficarmos lamentando a crueldade da natureza humana. Hitler, por fim, matou muitas pessoas, mas não puxou o gatilho ou a alavanca da câmara de gás sozinho. Junto nós precisamos combater todo atentado contra os direitos humanos. E enquanto houver a intolerância ou a crueldade, lembremos da lição deixada pelos sobreviventes do holocausto: É possível, ainda nas circunstâncias mais cruéis, cantarmos para anestesiarmos a nossa dor, melhor do que isso, não deixarmos que ninguém cale a nossa voz em prol da luta pelos direitos fundamentais e universais do ser humano.
(Alessandro S. Silva)





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