quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

TEXTO SOBRE O DOCUMENTÁRIO “O HOLOCAUSTO E OS CRIMES DA SEGUNDA GUERRA”


Nazismo: quando há justificativa para matar
O primeiro homicídio ocorrido na Bíblia, citado no documentário sobre a ascensão e queda do nazismo na Alemanha durante o século XIX, serve para iniciarmos uma reflexão sobre as atrocidades cometidas por um homem, Adolf Hitler, consequentemente, por uma nação que acreditou ser superior às demais. Quando Caim praticou homicídio contra Abel, o comportamento do criminoso não foi diferente dos nazistas no momento em que foram julgados no final do século XX: tentaram esconder o crime ou mesmo recorreram à presunção da inocência com tamanha frieza e cinismo ao negar uma ação executada contra à vida humana: um direito fundamental que deve ser assegurado a todos independente de qualquer distinção.
 Sobre os fatos cometidos pelos nazistas, apenas podemos comentar, haja vista que nada podemos fazer para mudar essa lamentável história da humanidade, no entanto, podemos refletir sobre até onde o ser humano pode chegar a fim de se tornar “o lobo do próprio homem”, conforme sustentou Thomas Hobbes. Caim tirou a vida do próprio irmão, de alguém que morava e dividia o mesmo espaço. No ambiente que foram inseridos era para reinar o amor, todavia, a inveja, o ciúme, enfim, o irracionalismo do instinto aflorou no impulso que proporcionou a tragédia iminente.
Isso nos leva a crer nas palavras de Rogério Greco (2017, p.12): “O ser humano é mau. Mata, estupra, rouba, calunia, enfim, pratica toda sorte de iniquidades”. Essa maldade do ser humano, inerente à própria natureza, foi explicitada no documentário “Coleção Holocausto e os Crimes da Segunda Guerra”. Das simples torturas até a criação de câmaras de gás, do senso comum até o uso do conhecimento científico para matar, a maldade entranhada na mente de uns poucos, somadas aos contextos políticos e econômicos, propagou as cenas mais cruéis da história da humanidade considerada evoluída. Explicaremos essa consideração: Quando o ser humano vivia nas sociedades primitivas, ele seguia seus instintos de sobrevivência, porque ainda não tinha o controle da racionalidade. A ciência, alguns difundiram, além de tirar o ser humano da ignorância, conseguiria gerar ao ser humano a felicidade, não foi à toa que às evoluções tecnológicas surgidas no final do século XIX e início do século XX trouxeram certo conforto e soberba a alguma minoria que poderia desfrutar da face evoluída da ciência: a tecnologia.
O cientista pode até comemorar que criou o rádio, o telefone, o automóvel, por outro lado, não pode negar que criou também a capacidade de matar o próximo de maneira mais eficiente, como vimos nas montanhas de corpos formadas por tiro nas cabeças das vítimas, bem como no uso de produtos e experimentos químicos como armas mortais. Além disso, houve os experimentos para desenvolver uma raça pura, sem êxito, mas o ser humano, nesse contexto cobaia e moribundo, estava subjugado por um pensamento que precisa ser combatido: o da generalização. Até que ponto a generalização e o estereótipo de outras culturas não podem provocar um holocausto pior? Para a cultura judaica, o holocausto era uma cerimônia na qual os judeus sacrificavam um animal para invocar a presença de Deus. Quem os nazistas invocaram quando praticaram o sacrifício de inúmeros judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e demais pessoas consideradas inferiores? Quando generalizaram essas etnias como inferiores encontraram nisso justificativa para difundir a ideia de uma superior: a ariana.
Como pode uma pessoa ou melhor um grupo de pessoas chegar a esse ponto de eximir os direitos fundamentais do ser humano e ainda encontrar defesa para justificar uma superioridade? Pode até ser sustentada pela teoria da seleção natural de Charles Darwin, em seu livro sobre as espécies animais, como alguns estudiosos alegam sobre a origem da atitude de Adolf Hitler. Mas preferimos a voz de Rousseau quando afirmou que a força não produz direitos. Mais ainda, o ser humano pode até ser um animal irracional, contudo é possível evoluir e tornar-se um ser dotado de razão, de noção do bem e do mal, possuir senso de justiça, por isso, devemos impedir que novos diários de Ane Frank sejam criados. Como? Com o empenho para o que foi proclamado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em Paris – direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade – seja ecoado nas diferentes culturas e nações mundiais.
Quando presenciamos as cenas do inferno de Dante mostradas no documentário, sentimos simultaneamente compaixão e rancor. Amor pelo maltratado, pelas pessoas mortas sem dó nem piedade, melancolia pela covardia de uns em detrimento do sofrimento de outros. Mas também sejamos sinceros: sentimos raiva, ódio dos nazistas, tanto que aflora em nós não só um sentimento de justiça e vingança como a vontade de eliminar todos os nazistas, logo, somos impulsionados a nos sentir todos contra uma outra nação. Daí provém o desejo latente de queremos sucumbi-la: o que nos torna diferente de Adolf Hitler? Ele deixou o instinto natural vencer e convencer outros a cometer homicídios qualificados. Nós não podemos, isso não é tarefa apenas dos Direitos Humanos, motivar o crescimento da vingança, mas da tolerância, do respeito pela diferença, resgatar aquilo que Caim renunciou embora estivesse em seu irmão Abel: a caridade pelo próximo.
O que os nazistas fizeram foi uma guerra declarada contra uma cultura diferente, uma afronta à laicização do Estado e, por conseguinte, ao Estado Democrático de Direito. Ninguém assumiu a culpa pela atitude dos nazistas ou fez todos os esforços para impedir as atrocidades. Ou melhor, o único que fez foi capturado pelos russos e também pelo anonimato que está relacionado com as pessoas as quais lutam pelos direitos humanos. Disso surge outra questão que não é possível desdobrar neste documento, entretanto é importante colocar em discussão como luz a futuros debates: Hitler, a encarnação do mal, é lembrado e ainda recentemente tem fãs pelo mundo, já o jovem que resolveu sozinho libertar os judeus foi preso e ninguém se importou com a vida dele. A questão é: Por que o mal é propagado e o bem geralmente fica no anonimato? Podemos desdobrá-las em outras não menos importantes e quem sabe até relacionadas à primeira: Por que preferimos ver mais cenas de violência na mídia enquanto as notícias boas, quando existem, comentamos, não damos valor? Muitas questões para futuros debates.
Deus sabia o que Caim tinha feito. Mas não pôde intervir porque concedeu livre arbítrio ao ser humano. Os outros países poderiam cedo evitar a perpetuação dos atos nazistas, mas só o fizeram depois de ameaçados belicamente, sendo que a prioridade não foram as vidas sucumbidas, sim questões consideradas maiores como o poder político. Em outras palavras, a favor de um bem maior, a vida humana, os outros estados poderiam interferir respeitando a soberania das diferentes nações em prol principalmente dos direitos humanos os quais são anteriores e superiores a qualquer Estado: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, entre outros.
Quando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, resolveu autorizar, junto com a França e o Reino Unido, bombardeio na Síria para acabar com o terrorismo, até que ponto não está também dizendo que todos os sírios são terroristas? Mais ainda, eles estão justificando uma ação militar sem levar em consideração que existe uma parcela da sociedade na Síria a qual não tem relação nenhuma com os responsáveis pelo lançamento de armas químicas. Quando o povo do Rio de Janeiro aplaude uma intervenção militar para acabar com a criminalidade crescente, até que ponto não está também justificando o uso da força para garantir a segurança e, inclusive, o da morte?
De líder a liderados, verificamos que o diálogo vem perdendo espaço e a intolerância crescendo cada vez mais. Esqueceram que violência gera mais violência, não que estejamos inspirados em senso comum, mas em dados concretos, pois no site da revista Veja é possível perceber que a violência não diminuiu com a intervenção do exército na cidade carioca, ao contrário, vem aumentando com o consequente índice de morte de civis e militares. Quando Hitler achou uma justificativa para cometer atrocidades, vimos o pior. A história está aí para aprendermos com os erros de nossos antepassados, sejam líderes ou liderados, se esquecermos, em pouco tempo estaremos matando o nosso irmão porque ele é terrorista, é bandido, é homossexual, é religioso, é diferente.
O homem não é só lobo do homem, mas também bom e livre por natureza, o que ele precisa é de um Estado Democrático de Direito que assegure e proteja os direitos fundamentais a todos. Mas do que isso, um Estado que estimule a tolerância, o amor e o diálogo incansavelmente antes que seja preciso surgir outra tragédia para de novo ficarmos lamentando a crueldade da natureza humana. Hitler, por fim, matou muitas pessoas, mas não puxou o gatilho ou a alavanca da câmara de gás sozinho. Junto nós precisamos combater todo atentado contra os direitos humanos. E enquanto houver a intolerância ou a crueldade, lembremos da lição deixada pelos sobreviventes do holocausto: É possível, ainda nas circunstâncias mais cruéis, cantarmos para anestesiarmos a nossa dor, melhor do que isso, não deixarmos que ninguém cale a nossa voz em prol da luta pelos direitos fundamentais e universais do ser humano.
(Alessandro S. Silva)





Conto Negrinha, de Monteiro Lobato.




Negrinha, Monteiro Lobato.

NEGRINHA ERA UMA pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa: — Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero. — Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer... Assim cresceu Negrinha— magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a ideia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta. — Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas. — Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria.
E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante.
Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que ideia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho?
Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste... O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta...
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”... O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Aí! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!... Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.
Não sabem! Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir
— um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta — atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.
— “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste — e foi contar o caso à patroa.
Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! — disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias. — Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
— Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
— Abra a boca!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste? E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.
— Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária — mas que trabalheira me dá! — A caridade é a mais bela das virtudes cristãs, minha senhora — murmurou o padre. — Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres empresta a Deus. Boa senhora suspirou resignadamente.
— Inda é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com Santa Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu — alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos.
Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era crime brincar?
Estaria tudo mudado — e findo o seu inferno — e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.
Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha!
Não se enxerga.
Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral — sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos — a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? — perguntou uma das meninas, curiosa.
— Quem há de ser? — disse a tia, num suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus... Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora. — Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar! — refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco. Chegaram as malas e logo: — Meus brinquedos! — reclamaram as duas meninas. Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos.
Que maravilha! Um cavalo de pau!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que falava mama ... que dormia...
Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
— É feita?... — perguntou, extasiada.
E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la. As meninas admiraram-se daquilo.
— Nunca viu boneca?
— Boneca? — repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?
Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.
— Como é boba! — disseram. — E você como se chama?
— Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram, apresentando-lhe a boneca:
— Pegue!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, com o coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível? Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente... era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena.
Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se. Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo — estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein? Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga. Compreendeu vagamente e sorriu. Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha... Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca — preparatório —, e o momento dos filhos — definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava! Assim foi — e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração, amenizava-lhe a vida.
Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a.
Brincara ao sol, no jardim. Brincara!... Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma. Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos... E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas. Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou... E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira
— uma miséria, trinta quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
— “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia. — “Como era boa para um
cocre!...”


D3 - Inferir o sentido de uma palavra ou expressão.


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Doce bem salgado
Em restaurantes finos, sobremesas comuns têm preço de prato principal.
Foram-se os tempos em que quem pagava a conta no restaurante se preocupava apenas com o preço do prato principal e da bebida. Agora, em casas elegantes do Rio de Janeiro e de São Paulo, os doces podem ser a parte mais salgada da notinha. E não se está falando, necessariamente, de sobremesas sofisticadas ou criações originais dos chefs. Uma torta de morango do Massimo, em São Paulo, abocanha 17 reais do cliente. Só para fazer uma comparação que os donos de restaurante detestam: com esse dinheiro é possível comprar onze caixas da fruta, com 330 moranguinhos. Ou um filé com fritas num restaurante médio.
No Le Champs Elisées, no Rio, uma torta de maçã sai por 15 reais, mesmo preço da torta de figo do Le Saint Honoré. “Nossos doces são elaborados e não estão na geladeira há dois dias, como os de outros lugares”, justifica o chef Alain Raymond, do Champs Elisées.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/150999/p_106a.html>. Acesso em: 25 mar. 2010.

QUESTÃO 01 - No trecho “... os doces podem ser a parte mais salgada da notinha.”, a expressão em destaque foi utilizada no intuito de
A) comparar os restaurantes.
B) contradizer os chefs.
C) dar clareza ao texto.
D) enfatizar a ideia anterior.
E) ironizar o preço dos doces.



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Carta de Leitor
Enaltecer a habilidade literária de Lya Luft seria “chover no molhado”. Eu a acompanho sempre, pois creio que ela é detentora da qualidade de que almejo um dia chegar próximo, e de hoje coloco em crônicas num blog cujo foco são o otimismo e a esperança. Por esse motivo, o artigo de Lya tocou-me mais do que nunca, especialmente porque sempre se percebe nela a preocupação em desfazer a opinião de alguns que a qualificam como mal-humorada, ranzinza e saudosista. Lya, no meu modo de ver, é realista, perspicaz, observadora e analista da realidade. No presente artigo, nesse momento em que passamos a ver uma tênue luz no fim do túnel mundial, ela aponta e vislumbra a luminosidade sobre todos os entraves que impedem o brasileiro e o ser humano universal de viver com um mínimo de dignidade. Ainda é possível mudar.
Teodoro Uberreich
Veja, Ilha Bela, SP, 2 nov. 2011.

QUESTÃO 02 - No Texto , o autor usou a expressão “‘chover no molhado’” para expressar
A) admiração.
B) entusiasmo.
C) frustração.
D) ironia.
E) monotonia.

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Leitura: quem começa não para mais
Mundo Jovem: Qual a importância da leitura para os jovens?
Elisabeth Dangelo Serra: A leitura no mundo moderno é a habilidade intelectual mais importante a ser desenvolvida e cultivada por qualquer pessoa e de qualquer idade. Os jovens que não tiveram a oportunidade de descobrir os encantos e os poderes da leitura terão mais dificuldades para realizar seus projetos de vida do que aqueles que escolheram a leitura como companhia. Apesar dos atrativos atuais trazidos pelas novas tecnologias, hoje há um número expressivo de jovens que leem porque gostam e ao mesmo tempo são usuários da internet.
Aqueles que são leitores têm muito mais chances de usufruir da internet do que aqueles que não têm contato com a leitura de livros, jornais e revistas. Contudo é a leitura literária que alimenta a imaginação, a fantasia, criando as condições necessárias para pensar um projeto de vida com mais conhecimento sobre o mundo, sobre as coisas e sobre si mesmo.
Uma mensagem: nunca é tarde para começar a ler literatura. Portanto aqueles que não
trilharam esse caminho, e desejarem experimentar, vale a pena tentar.
Mundo Jovem: Como nos tornamos leitores, como desenvolvemos o gosto pela leitura?
Elisabeth Dangelo Serra: Só há uma maneira de nos tornarmos leitores: lendo. E essa atitude é cultural, ela não nasce conosco, tem que ser desenvolvida e sempre alimentada.
O entorno cultural em que a pessoa vive é determinante para que a habilidade de ler tenha chances de crescer. Ela é fruto do exemplo e das oportunidades de contato com a cultura letrada, em suas diversas formas. O exemplo e as oportunidades são criados por adultos que estão próximos às crianças e aos jovens.
Disponível em: <http://www.mundojovem.pucrs.br/entrevista-03-2009.php>. Acesso em: 15 abr. 2011. Fragmento.

QUESTÃO 03 - No trecho “... tem que ser desenvolvida e sempre alimentada.”, a palavra destacada assume no contexto o sentido de
A) aperfeiçoada.
B) apreciada.
C) avaliada.
D) exercitada.
E) sustentada.



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Exóticos, pequenos e viciantes
Ao caminharmos pela cidade, nas alamedas e nas praças é frequente vermos pessoas falando ao celular, gente dirigindo com uma das mãos, pessoas apertando botões e até tirando fotos com seus aparelhos digitais. Até ouvimos os toques polifônicos diversificados e altos que se confundem com as buzinas e os sons urbanos mais comuns.
O que me chama a atenção são os tamanhos, os formatos e as múltiplas funções dessas coisas que também são úteis, quando não passam de meros badulaques teens.
Os celulares estão cada vez mais viciosos, uma coqueluche. Já fazendo analogia com a peste, os celulares estão se tornando uma febre, [...] bem como outros aparelhos pequenos, úteis e viciantes. [...] Tem gente que não vive sem o celular! Não fica sem aquela olhadinha, telefonema ou mensagem instantânea, uma mania mesmo.
Interessante, uma vez, um amigo meu jornalista disse que os celulares podem ser próteses. Bem como outro objeto, status ou droga podem ser próteses. Pode haver gente que não têm amigos, mas tem o melhor celular, o mais moderno, uma prótese para a vida.
Pode ser que haja gente que não seja feliz, mas tenha uma casa boa, o carro do ano, o poder, a fama e muito dinheiro, tem próteses.
Tudo que tenta substituir o natural, o simples da vida, será prótese de uma pessoa. Aqui, entendo natural como a busca da realização, da felicidade, do bem-estar que se constrói pela simplicidade, pelo prazer de viver. Viver incluído no mundo digital e moderno é legal, mas é preciso manter o senso crítico de que as coisas podem ser pequenas, úteis e viciantes. VIANA, Moisés.
Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.com/psicologia/exoticos-pequenos-viciantes.htm>. Acesso
em: 4 fev. 2012. Fragmento. *Adaptado: Reforma Ortográfi ca.

QUESTÃO 04 - No Texto, no trecho “... é preciso manter o senso crítico de que as coisas podem ser pequenas, úteis e viciantes.”, a expressão destacada enfatiza
A) a importância dos celulares na vida moderna.
B) a inferioridade dos aparelhos celulares.
C) a tecnologia presente nos aparelhos celulares.
D) uma crítica ao uso do celular e seus malefícios.
E) uma relação entre o tamanho do celular e o vício.


Leia o texto abaixo e responda.
História deliciosa
Nada mais gostoso que cheirinho de pão quente de manhã! Muita gente pensa assim, em vários países, há milhares de anos. O pão foi o  primeiro alimento criado pelo homem, há cerca de
12 mil anos. Antes todos dependiam da caça e da pesca para comer.
Quando os antigos aprenderam a plantar trigo, deram um grande passo para se desenvolver e conquistar novas terras. Descobriram que os cereais eram fáceis de plantar, resistentes e permitiam fazer pão. No começo, os grãos eram moídos e misturados à água e a massa assada sobre cinzas. O resultado era um pão fino e duro, torrado e meio sem gosto. Mas era só o começo de uma longa história.

PRIMEIRAS DELÍCIAS
Os antigos egípcios criaram o tipo de pão que conhecemos hoje. Um dia, esqueceram a massa no sol e ela fermentou. Eles assaram e perceberam que aquele fenômeno deixava o pão mais leve, cheio de furinhos e passaram a usar a massa fermentada. No Egito, o pão era tão importante que servia como pagamento para os trabalhadores. E os nobres também valorizavam esse alimento: na tumba de Ramsés III há desenhos em relevo com o formato de pães, doces e bolos.
No Brasil, os pães chegaram trazidos pelos portugueses na época da colonização e por muito tempo eram consumidos pelos ricos, pois o trigo era muito caro. As primeiras padarias só surgiram
por volta de 1950, tocadas por italianos e portugueses.
Recreio. São Paulo: Abril, n. 206, p. 18-19.

QUESTÃO 05 - No trecho “As primeiras padarias só surgiram por volta de 1950, tocadas por italianos e portugueses.”, a palavra destacada adquire, no texto, o sentido de
A) aperfeiçoadas.
B) administradas.
C) contatadas.
D) orçadas.
   E) tratadas.






GABARITO:

1 - E;
2 - A;
3 - D;
4 - D;
5 - B.

D2 - Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto


Leia o texto abaixo e responda.
Por que todo mundo usava peruca na Europa dos séculos XVII e XVIII?
Não era todo mundo, apenas os aristocratas. A moda começou com Luís XIV (1638-1715), rei da França. Durante seu governo, o monarca adotou a peruca pelo mesmo motivo que muita gente usa o acessório ainda hoje: esconder a calvície. O resto da nobreza gostou da ideia e o costume pegou. A peruca passou a indicar, então, as diferenças sociais entre as classes, tornando-se sinal de status e prestígio. Também era comum espalhar talco ou farinha de trigo sobre as cabeleiras falsas para imitar o cabelo branco dos idosos. Mas, por mais elegante que parecesse ao pessoal da época, a moda das perucas também era nojenta.
“Proliferava todo tipo de bicho, de baratas a camundongos, nesses cabelos postiços”, afirma o estilista João Braga, professor de História da Moda das Faculdades SENAC, em São Paulo. Em 1789, com a Revolução Francesa, veio a guilhotina, que extirpou a maioria das cabeças com perucas. Símbolo de uma nobreza que se desejava exterminar, elas logo caíram em desuso. Sua origem, porém, era muito mais velha do que a monarquia francesa.
No Egito antigo, homens e mulheres de todas as classes sociais já exibiam adornos de fibra de papiro – na verdade, disfarce para as cabeças raspadas por causa de uma epidemia de piolhos. Hoje, as perucas de cachos brancos, típicas da nobreza europeia, sobrevivem apenas nos tribunais ingleses, onde compõem a indumentária oficial dos juízes.
Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_285920.shtml>. Acesso em: 27 mar. 2010. * Adaptado: Reforma Ortográfica.

QUESTÃO 01 - No techo “... elas logo caíram em desuso.”, o pronome em destaque retoma
A) diferenças.
B) cabeleiras.
C) perucas.
D) classes sociais.
E) cabeças raspadas.

Leia o texto abaixo.

Resiliência
A arte de dar a volta por cima

“Aquilo que não me destrói me fortalece”, ensinava o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche. Este poderia ser o mote dos resilientes, aquelas pessoas que, além de pacientes, são determinadas, ousadas flexíveis diante dos embates da vida e, sobretudo, capazes de aceitar os próprios erros e aprender com
eles.
Sob a tirania implacável do relógio, nosso dia a dia exige grande desgaste de energia, muita competência e um número cada vez maior de habilidades. Sobreviver é tarefa difícil e complexa, sobretudo nos grandes centros urbanos, onde vivemos correndo de um lado para outro, sobressaltados e estressados. Vivemos como aqueles malabaristas de circo que, ofegantes, fazem girar vários pratos simultaneamente, correndo de lá para cá, impulsionando-os mais uma vez para que recuperem o movimento e não caiam ao chão.
O capitalismo, por seu lado, modelo econômico dominante em nossa cultura, sem nenhuma cerimônia empurra o cidadão para o consumo desnecessário, quer ele queira ou não. A propaganda veiculada em todas as mídias é um verdadeiro “canto da sereia”; suas melodias repetem continuamente o refrão: “comprar, comprar, comprar”.
Juntam-se a isso o trânsito caótico, a saraivada cotidiana de más notícias estampadas nas manchetes e as várias decepções que aparecem no dia a dia, e pronto: como consequência, ficamos frágeis, repetitivos, desesperançados e perdemos muita energia vital.
Se de um lado a tecnologia parece estar a nosso favor, pois cada vez mais encurta distâncias e agiliza a informação, de outro ela acelerou o ritmo da vida e nos tornou reféns de seus inúmeros e reluzentes aparatos que se renovam continuamente. E assim fi camos brigando contra o... tempo!
KAWALL, Tereza. Revista Planeta, Fevereiro de 2010, Ano 38, Edição 449, p. 60-61. Fragmento.

QUESTÃO 02 - No trecho “Juntam-se a isso...” , a palavra destacada refere-se
A) ao consumismo gerado pelo capitalismo.
B) ao trânsito caótico nas grandes cidades.
C) às notícias ruins veiculadas pela mídia.
D) às necessidades vitais das pessoas.
E) às várias decepções do dia a dia.


Leia o texto abaixo e responda.
A melhor amiga do homem
Diogo Schelp

Devemos muito à vaca. Mas há quem a veja como inimiga. A vaca, aqui referida como a parte pelo todo bovino, é acusada de contribuir para a degradação do ambiente e para o aquecimento global. Cientistas atribuem ao 1,4 bilhão de cabeças de gado existentes no mundo quase metade das emissões de metano, um dos gases causadores do efeito estufa. Acusam-se as chifrudas de beber água demais e ocupar um espaço precioso para a agricultura.
O truísmo inconveniente é que homem e vaca são unha e carne. [...] Imaginar o mundo sem vacas é como desejar um planeta livre dos homens – uma ideia, aliás, vista com simpatia por ambientalistas menos esperançosos quanto à nossa espécie. “Alterar radicalmente o papel dos bovinos no nosso cotidiano, subtraindo-lhes a importância econômica, pode levá-los à extinção e colocar em jogo um recurso que está na base da construção da humanidade e, por que não, de seu futuro”, diz o veterinário José Fernando Garcia, da Universidade Estadual Paulista em Araçatuba. [...]
A vaca tem um papel econômico crucial até onde é considerada animal sagrado. Na Índia, metade da energia doméstica vem da queima de esterco. O líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que, como todo hindu, não comia carne bovina, escreveu: “A mãe vaca, depois de morta, é tão útil quanto viva”. Nos Estados Unidos, as bases da superpotência foram estabelecidas quando a conquista do Oeste foi dada por encerrada, em 1890, fazendo surgir nas Grandes Planícies americanas o maior rebanho bovino do mundo de então. “Esse estoque permitiu que a carne se tornasse, no século seguinte, uma fonte de proteína para as massas, principalmente na forma de hambúrguer”, escreveu Florian Werner. [...] Comer um bom bife é uma aspiração natural e cultural. Ou seja, nem que a vaca tussa a humanidade deixará de ser onívora.
Revista Veja. p. 90-91, 17 jun. 2009. Fragmento.


QUESTÃO 03 - No trecho “...subtraindo-lhes a importância...”, o pronome destacado retoma o termo
A) ambientalistas.
B) bovinos.
C) cientistas.
D) homens.
E) rebanhos.


Leia o texto abaixo.
POLUIÇÃO DA ÁGUA

O papel de chiclete jogado ali, a garrafa de plástico aqui, a lata de refrigerante acolá. No primeiro temporal, as chuvas levam esse lixo para bueiros e depois para algum rio que atravessa a cidade. Quem não viu um monte dessas coisas flutuando na água?
Mas essa é a poluição que enxergamos. A que não vemos é causada pelo esgoto das residências, que lança nos rios, além de dejetos, restos de comida e um tipo de bactéria que deles se alimenta: são as chamadas bactérias aeróbicas, que consomem oxigênio e acabam com a vida aquática, além de causarem problemas de saúde se ingeridas.
Outro problema são as indústrias localizadas nas margens dos rios e lagos. Só recentemente foram criadas leis para obrigá-las a tratar o esgoto industrial, a fim de diminuir a quantidade de poluentes químicos que elas despejam nas águas e que foram responsáveis pela “morte de muitos rios e lagos de todo o mundo”.
Poluição Ambiental – Revista da Lição de Casa. In: O Estado de S. Paulo, encarte 5, p. 4-5 – adaptado.

QUESTÃO 04 - No trecho “A que não vemos é causada pelo esgoto das residências,“, a palavra destacada refere-se à
A) bactéria.
B) comida.
C) garrafa.
D) poluição.

E) quantidade.

Leia o texto abaixo.
O rio

O homem viu o rio e se entusiasmou pela sua beleza. O rio corria pela planície, contornando árvores e molhando grandes pedras. Refletia o sol e era margeado por grama verde e macia.
O homem pegou o rio e o levou para casa, esperando que, lá, ele desse a mesma beleza. Mas o que aconteceu foi sua casa ser inundada e suas coisas levadas pela água.
O homem devolveu o rio à planície. Agora quando lhe falam das belezas que antes admirava, ele diz que não se lembra. Não se lembra das planícies, das grandes pedras, dos reflexos do sol e da grama verde e macia. Lembra-se apenas de sua
casa alagada e de suas coisas perdidas pela corrente.
FRANÇA JUNIOR, Oswaldo. As laranjas iguais. São Paulo: Nova Fronteira, 1985, p.13.

QUESTÃO 05 - No trecho “... e se entusiasmou pela sua beleza.”, o termo destacado refere-se à palavra
A) árvores.
B) pedras.
C) planície.
D) rio.
E) sol.



GABARITO:
1 - C;
2 - A;
3 - B;
4 - D;
5 - D.

Reportagem

 GÊNERO TEXTUAL REPORTAGEM Olá, eu sou o professor Alessandro. Na aula de hoje vamos abordar o assunto reportagem. Reportagem é um gênero te...