quinta-feira, 20 de agosto de 2020

TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA COM GABARITO E DESCRITORES CORRESPONDENTES

 

Texto I – Meus oito anos- Casimiro de Abreu

 

Meus oito anos

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
De despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d´estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

[…]

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Enciclopédia Itaú Cultural – Literatura Brasileira. Disponível em www.itaucultural.org.br.


Casimiro de Abreu (1839 -1860) nasceu no Estado do Rio de Janeiro. É um dos poetas mais conhecidos do Romantismo. Sua poesia, marcada pelo pessimismo e pelo saudosismo nacionalista, está resumida na obra “As Primaveras”, publicada em 1859.

 

Leia, atentamente, o poema de Casimiro de Abreu.

 

 

ATIVIDADES DE LEITURA

 

1. No poema, o sentimento que predomina é:

a) Alegria.

b) Saudade. (X)

c) Tristeza.

d) Frustração.

e) Revolta.

D4

 

2. A estratégia usada para expressar este sentimento é:

a) Repetir várias vezes a ideia de adormecer, de anoitecer.

b) Evocar imagens do mar e do céu para representar o inatingível.

c) Repetir o verso “Oh! Que saudades...”, na 1ª e na última estrofe. (X)

d) Descrever as belezas da natureza da infância perdida.

e) Lamentar o passado, os anos perdidos, durante a sua infância.

 

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3. Releia:

 

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

 

3.1. No segundo verso, há uma metáfora que pode ser apresentada pela seguinte

expressão:

 

a) A vida é uma manhã de sol.

b) O sol é alegria da vida.

c) A infância é luz.

d) A saudade é como um amanhecer.

e) A aurora é o início da infância. (X)

3.2. A outra expressão metafórica do texto correspondente ao verso grifado

acima é:

a) “a minha infância querida”.

b) “os anos não trazem mais”.

c) “o despontar da existência.” (X)

d) “que noites de melodia”.

e) “aquelas tardes fagueiras”.

 

D4

4. Considerando a leitura do poema, podemos afirmar que o sujeito lírico é masculino. Comprove, com versos do poema, esta afirmativa.

Na quinta estrofe, os versos “Livre filho das montanhas, /Eu ia bem satisfeito,” confirmam que é masculino o sujeito lírico. As palavras “filho” e “satisfeito” é a marca linguística que define isso.

 

D1

 

5. Retire do poema um exemplo de:

a- Inversão:

“Respira a alma inocência” (verso 3, segunda estrofe).

b- Antítese:

A oposição entre dia e noite: o dia representa o movimento, a alegria; a noite, o folgar ingênuo, o descanso, o sonho.

A oposição entre o presente e o passado: “Em vez de mágoas de agora/eu tinha nessas delícias/de minha mãe as carícias/E os beijos de minha irmã.”/ “Que doce a vida não era/Nessa risonha manhã!/ Em vez de mágoas de agora...”.

 

D19

 

6. Para representar a infância como uma época de felicidade, o poeta se vale de inúmeras imagens poéticas. Identifique, pelo menos, duas dessas imagens.

A imagem da aurora, da luz que antecede o nascer do sol, para representar a felicidade da infância, definida pelo poeta como o despertar da existência.

A imagem do lago sereno, para representar uma fase de acolhimento, proteção e tranquilidade.

A imagem da primavera com suas flores e cores, para representar a alegria da infância.

A imagem da flor, para representar a inocência.

7. Em muitas estrofes do texto, o sujeito lírico revela e justifica o que sente. Que

justificativas ele apresenta para as saudades que declara sentir da infância?

O sujeito lírico sente saudades da infância e esse sentimento se justifica pelo fato

de ser a infância um tempo de amor, de sonhos, de contato mais intenso com a

natureza, um tempo em que nos sentimos protegidos pela família e vivemos mais

serenamente, sem preocupações. Somos livres para brincar, viver. Enfim, somos

mais felizes.

 

D4

 

8. Comente o ponto de vista assumido pelo sujeito lírico para expressar seus

sentimentos. Como você avalia essa forma de ver a infância?

Resposta pessoal.

Texto II – AI QUE SAUDADES... - Ruth Rocha

 

A forma idealizada como os poetas românticos abordaram a realidade provocou inúmeras paródias de seus textos. O próximo texto que vamos ler dialoga com o texto de Casimiro de Abreu. É uma paródia, estratégia muito utilizada como exercício de crítica e contestação, como vimos na Oficina 6 do Guia 1. Leia atentamente o texto de Ruth Rocha para responder às atividades propostas.



Ruth Rocha nasceu em 1931, em São Paulo. Publicou o primeiro livro em 1976. É uma escritora muito importante da Literatura brasileira contemporânea.

 

AI QUE SAUDADES... Ruth Rocha

Ai que saudades não tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais...
Me sentia rejeitada,
Tão feia, desajeitada,
Tão frágil, tola, impotente,
Apesar dos laranjais.

Ai que saudades não tenho
Da aurora da minha vida,
Não gostava da comida
Mas tinha que comer mais...
Espinafre, beterraba,
E era fígado e era fava,
E tudo que eu não gostava
Em porções industriais.

Como são tristes os dias
Da criança escravizada,
Todos mandam na coitada,
Ela não manda em ninguém...
O pai manda, a mãe desmanda,
O irmão mais velho comanda,
Todos entram na ciranda,
E ela sempre diz amém...

Naqueles tempos ditosos
Não podia abrir a boca,
E a profe s sora era louca,
Só queria era gritar.
Senta direito, menina!
Ou se não, tem sabatina!
Que letra mais horrorosa!
E pare de conversar!

Oh dias da minha infância,
Quando eu ficava doente,
Ou sentia dor de dente,
E lá vinha tratamento!
Era um tal de vitamina...
Mingau, remédio, vacina,
Inalação e aspirina,
Injeção e linimento!

E sem falar na tortura:
Blusa de gola engomada,
Roupa de cava apertada,
Sapatinho de verniz...
E as ordens? Anda direito!
Diz bom dia pras visitas!
Que menina mais sem jeito!
Tira o dedo do nariz!

Que aurora! Que sol! Que nada!
Vai já guardar os brinquedos!
Menina, não chupe os dedos!
Não pode brincar na lama!
Vai já botar o agasalho!
Vai já fazer a lição!
Criança não tem razão!
É tarde, vai já pra cama!

Vê se penteia o cabelo!
Menina se mostradeira!
Menina novidadeira!
Está se rindo demais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Ruth Rocha no livro O mito da infância feliz.

ATIVIDADES DE LEITURA

 

Agora que você já leu o poema “Ai que saudades...”, de Ruth Rocha, responda às questões abaixo:

 

1. Qual é o tema do poema?

O tema do poema é a infância.

 

D6

 

2. Com base na leitura do poema, identifique e descreva o sujeito lírico. Comprove a sua resposta a partir de versos do poema.

O sujeito lírico é feminino. Uma pessoa adulta fala, expõe seus sentimentos. Na

primeira estrofe, encontramos versos que comprovam isso. Por exemplo: “Me sentia rejeitada...”

D1

3. O uso de reticências no título e em outros versos pode ter um sentido. Com

que objetivo a poeta pode ter usado esta estratégia?

As reticências foram usadas para marcar uma interrupção do discurso, uma mudança de perspectiva ou orientação discursiva. No texto elas promovem uma

pausa, a partir da qual o sujeito lírico rompe com a expectativa criada pelo que foi dito anteriormente.

 

D17

 

4. Leia a informação abaixo:

Algumas vezes, o autor coloca, explícita ou implicitamente, uma outra voz, no

texto, cujo entendimento depende de o leitor ter, em seu repertório, conhecimento de um outro texto. É o que se costuma chamar de intertextualidade. (Abreu, Antônio Suarez. Curso de Redação. Editora Ática, São Paulo:1996)

A intertextualidade é um recurso usado por Ruth Rocha. Como foi usado este

recurso e com que intenção?

A intertextualidade é uma estratégia usada por Ruth Rocha com o objetivo de construir sentidos. Ruth Rocha dialoga com o texto de Casimiro de Abreu, retomando o tema da infância, com o objetivo de criticar a atitude romântica de

idealizar a infância.

 

5. A ironia é outra estratégia usada por Ruth Rocha com o objetivo de construir um efeito de humor, crítica. Identifique e explique o uso de ironia no poema.

Encontramos uma ironia no título “Ai que saudades...”. Percebemos o uso deste recurso, apenas quando lemos e entendemos o sentido global do poema. Na primeira estrofe, a ironia se torna evidente, quando a descrição do estado de ânimo do sujeito lírico se contrapõe aos sentimentos de saudades da infância querida.

Os adjetivos “rejeitada, feia, desajeitada, frágil, tola, impotente” revelam que a

infância foi um momento triste que não vale a pena ser lembrado.

D16

6. No poema, a autora faz algumas críticas. Identifique a crítica feita à escola e

à família.

Em família, a criança não tem vontade própria, é obrigada a comer sem gostar, é uma “criança escravizada”. Na escola, a criança não tem liberdade de expressão, não pode falar: “Não podia abrir a boca”.

D4

7. A metáfora da infância como aurora, como uma fase feliz da existência é

questionada por Ruth Rocha, que apresenta um posicionamento diferente a esse

respeito. Que argumentos a autora utiliza em seu poema para desconstruir essa

visão?

Nos versos “Que aurora! Que sol! Que nada!”, o posicionamento da autora fica

claro. São muitas as justificativas para essa visão da infância. A repressão à alegria e à liberdade obscurece o brilho do sol e não há aurora. Um exemplo: o espaço da brincadeira se desfaz no momento em que a criança, ao invés de brincar, deve cuidar de seus brinquedos.

D8

8. Um neologismo é uma nova palavra, criada, inventada. Em qual dos versos há

um neologismo?

a) “E era fígado e era fava”.

b) “Naqueles tempos ditosos”.

c) “Ou se não, tem sabatina.”

d) “Inalação e aspirina”.

e) “Menina se mostradeira”. (X)

9. Sobre a linguagem dos dois poemas é possível dizer que:

a) Ambos os poemas são escritos num registro formal da linguagem.

b) Ambos os poemas têm muitas inversões sintáticas que prejudicam sua

compreensão.

c) A linguagem coloquial é um traço marcante do poema de Ruth Rocha. (X)

d) O texto de Casimiro de Abreu é mais informal que o de Ruth Rocha.

e) Somente Casimiro de Abreu preocupa-se com a métrica e a rima em seu poema.

 

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