TEXTO
I
Malala
Miguel
Barbieri Jr.
Em 9 de outubro de 2012, a paquistanesa Malala Yousafzai voltava
para casa num ônibus escolar quando um homem armado disparou três tiros em sua
direção. Ela tinha 12 anos, e uma das balas atravessou sua cabeça. O eficiente
documentário de Davis Guggenheim (vencedor do Oscar por Uma verdade inconveniente)
reconstitui os detalhes da trajetória da garota que, premiada com o Nobel da
Paz, virou uma ativista pelos direitos das mulheres à educação. Além de focar o
atual cotidiano de Malala — ela mora em Birmingham, na Inglaterra, com os pais
mais dois irmãos —, o registro mostra como os fundamentalistas do regime do
Talibã dominaram a região do Vale do Swat e promoveram mudanças radicais nos costumes
da população. Estreou em 19/11/2015.
BARBIERI JR.,
Miguel. Malala. Veja São Paulo. São Paulo: Abril, 25 nov. 2015. p. 13.
TEXTO II
O novo disco de Adele é
um emotivo (e cansativo)
diário aberto
Leonardo Rodrigues
Após
quase quatro anos na penumbra, Adele voltou explorando ao limite todos os
elementos que a ajudaram a se tornar um dos maiores fenômenos recentes da
música pop. Em 25, álbum que lançou nesta sexta (20), boicotando os serviços de
streaming, ela capricha como nunca na potência vocal, prioriza arranjos etéreos
e quase sempre grandiosos, entrega letras tão intimistas quanto as anotações de
um diário de adolescente.
A proposta pode soar repetitiva e cansativa — e soa —, mas o
fato é que nenhum fã terá do que reclamar. Esse é o terreno da jovem cantora,
onde caminha com mais desenvoltura. Hoje com 27 anos, Adele tinha dois a menos
quando começou a trabalhar nas músicas, que, segundo ela, foram compostas para
“apagar o passado”, provavelmente ainda o do ex, o fotógrafo Alex Sturrock, que
já fora lembrado em faixas do disco 21. Aparentemente, não o suficiente.
“Agora eu sou uma mamãe que tem muita coisa na cabeça. Tenho que
limpar um monte de coisas que me prejudicam, o que é realmente terapêutico,
porque eu consigo guardar rancor. A vida é muito mais fácil quando você não
acumula seu passado”, disse a cantora em entrevista recente à revista à
britânica i-D.
Como se quisesse ver a vida passando pelos seus olhos, Adele faz
do passado o presente em quase todas as faixas de 25. Vai da infância em River
lea, em que usa a metáfora do rio inglês para justificar sua personalidade,
passando pelos malfadados traumas sentimentais (Hello, When we were young,
Million years ago, entre outras), até desembocar em sua maior transformação até
aqui, a maternidade (em Sweetest devotion).
Entre mágoas, lenços e lágrimas, o amor parece triunfar no fim.
“Meu amor é tão profundo e verdadeiro pelo meu homem que me coloca em uma posição
em que eu consigo finalmente estender a mão para o ex. Deixe-o saber que eu o
superei”, disse esta semana em entrevista ao The Guardian.
[...]
etéreo: que eleva
espiritualmente; sublime,
elevado.
serviço de streaming:
plataforma conectada
à internet pela qual o
assinante pode ter acesso
a uma grande quantidade
de
músicas disponíveis.
RODRIGUES, Leonardo. O
novo disco de Adele é um emotivo (e
cansativo) diário aberto.
Disponível em: <musica.uol.com.br/noticias/
redacao/2015/11/20/novo-disco-de-adele-e-um-emotivo-e-cansativodiario-
aberto.htm>. Acesso em: fev. 2016.
Você
conhece a cantora Adele e o disco sobre o qual o texto fala? Suponhamos que
você não o conheça. Apenas pela leitura do texto de Leonardo Rodrigues, sua
impressão sobre o disco seria mais positiva ou mais negativa?
Que característica do disco é ressaltada
pelos comentários de Leonardo Rodrigues?
Caso você já tenha ouvido alguma das faixas que compõem a obra
comentada, explique se você concorda ou não com a avaliação que Leonardo
Rodrigues faz.
Ao ler os textos 1 e 2, você deve ter percebido algumas
características em comum:
●● Ambos
apresentam algum tipo de descrição de uma obra artística. Essa descrição procura
apresentar as características essenciais ou mais evidentes, mais perceptíveis:
no texto 1, a obra descrita é o documentário Malala; no texto 2, é a coletânea
de músicas da cantora Adele o objeto apresentado.
●● Além da
descrição das obras artísticas, há também uma série de comentários que os
autores fazem a respeito delas. Esses comentários são feitos com base numa análise
da obra: são indicados aspectos ligados à composição, características
consideradas qualidades artísticas (ou problemas), elementos julgados positivos
(ou negativos), características estruturais.
●● Ao mesmo tempo que há
esses comentários analíticos, os autores também apresentam comentários
apreciativos, de natureza avaliativa. Nesses comentários, é possível observar
expressão de opiniões. Por exemplo:
“O
eficiente documentário de Davis Guggenheim (vencedor do Oscar por Uma
verdade inconveniente) reconstitui os detalhes da trajetória da garota que,
premiada com o Nobel da Paz [...]”
“A
proposta pode soar repetitiva e cansativa – e soa – mas o fato é que nenhum fã
terá do que reclamar.”
Nesses
comentários, você pode observar o emprego recorrente de recursos linguísticos e
discursivos comumente utilizados para expressar opiniões em textos de natureza argumentativa:
adjetivos com função avaliativa, formas de modalização, projeções enunciativas
explícitas, entre outros.
Textos
que têm essa característica são chamados em geral de resenhas críticas.
Exemplo
de resenha de livro:
Contos Amazônicos
Obra interessante,
mas menos conhecida do autor de "O Missionário"
Da Página 3
Pedagogia & Comunicação
Publicado
originalmente em 1893, os "Contos Amazônicos", de Inglês de Souza
(1853-1918), chegam afinal à sua terceira edição. A iniciativa, da Editora
Martins Fontes, com certeza merece aplausos e por diversas razões. (juízos
de valor, grifo meu)
O principal motivo é
o valor histórico e literário dos "Contos Amazônicos", um livro injustamente
colocado em plano secundário pelos críticos e historiadores da literatura
brasileira. Quando se fala na obra de Inglês de Souza, menciona-se
principalmente - quando não de modo exclusivo - o romance "O
Missionário" (1891), devido ao fato de ele se inserir no estilo de época
predominante no Brasil da segunda metade do século 18, o naturalismo.
Entretanto, o que há
de pior em "O Missionário" é justamente o seu caráter naturalista,
marcado tanto pelo esquematismo determinista na interpretação da realidade
psicológica e social que põe em foco, quanto pelos excessos retóricos e
descritivos que truncam ou se sobrepõem à narração propriamente dita, tornando
o romance indigesto, em particular para o leitor contemporâneo.
Ao contrário, nos
"Contos Amazônicos", Inglês de Souza conseguiu escapar à fôrma do
naturalismo, produzindo uma obra original e de leitura ainda hoje agradável.
Uma obra de cunho regional que antecipa o melhor da nossa prosa regionalista de
meados do século 20: José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
A linguagem dos nove
textos que compõem o volume é objetiva e bastante concisa, caracterizando-se
por uma oralidade simpática e extremamente adequada, pois os contos reproduzem
"causos" que diversos narradores estão trocando entre si, numa
espécie de sarau narrativo, que o leitor vai pressentindo por pequenas
indicações dadas pelos próprios narradores, a partir do segundo conto do
volume.
Essa oralidade, por
sinal, atinge seu ápice no conto "O gado do Valha-me Deus", que tem
por narrador um vaqueiro, o Domingos Espalha, cuja sintaxe cheia de idas e
voltas e o rico vocabulário popular e regional evocam pioneiramente a linguagem
do Riobaldo de "Grande Sertão: Veredas".
Além dessa requintada
elaboração estilística, em termos de linguagem literária, também cabe observar
o brilhantismo com que Inglês de Souza maneja o gênero conto. Em especial
aqueles que se situam no terreno da literatura fantástica, como "A
feiticeira", "Acauã", "Amor de Maria" e "O baile
do judeu", além de "O gado do Valha-me Deus" já mencionado.
Em todos eles, o
autor soube elaborar literariamente personagens e situações sobrenaturais
extraídas do folclore ou do imaginário popular regional, criando narrativas
que, além do final surpreendente, têm um clima denso e assustador.
Mas também têm o
mesmo impacto os outros contos do livro, que abordam temas ligados à história
do Brasil e denunciam o descaso do governo nacional, do Império e da primeira
República, com a região amazônica. "O voluntário", por exemplo,
revela como eram recrutados "a pau e corda" os "voluntários da
pátria" durante a Guerra do Paraguai.
"O donativo do
capitão Silvestre" reflete os ânimos da região, quando da eclosão da
Questão Christie. Finalmente, "O rebelde" - que por sua extensão é
mais uma novela do que um conto propriamente dito - tematiza a revolta da
Cabanagem, ocorrida no Pará entre 1835 e 1840.
Indicações
Ensino Médio. Para o professor de
literatura brasileira que deseje oferecer uma visão menos padronizada da
literatura brasileira. O livro também cria a possibilidade de trabalhos
interdisciplinares com a área de história do brasil.
Contos Amazônicos
Inglês de Souza
Editora Martins Fontes
205 págs.
Inglês de Souza
Editora Martins Fontes
205 págs.
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