sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Parnasianismo: conceito, características e atividades com base em poemas


PARNASIANISMO

    O Parnasianismo é um movimento contemporâneo ao Realismo/Naturalismo, referente à poesia dessa época. Em Portugal foi de pequeníssima expressão. Contudo, no Brasil teve muitos seguidores.

    Parnassus era um monte grego onde, segundo a lenda, se reuniam os poetas. O movimento parnasiano se inicia na França, através da publicação da antologia Le Parnasse Contemporain (O Parnaso contemporâneo).

    Essa corrente pretendeu combater o excesso de sentimentalismo presente na poesia romântica e criar algo mais próximo da "ciência".

Características principais da produção artística

   1. Lema: "Arte pala arte". A arte deveria constituir um fim em si mesma, não ser reflexo dos sentimentos do artista ou representar preocupações com problemas sociais.
   2. Retorno ao Classicismo, valorizando mais a descrição que a análise.
   3. Rigidez formal, com respeito a métrica e rimas.
   4. Objetividade.
   5. Preferência pelos sonetos, só que com verso alexandrino (doze sílabas poéticas) e não com decassílabo (dez sílabas poéticas) como nos clássicos.
   6. Poesia mais preocupada com a técnica, com a forma.
   7. Impessoalidade. O artista não devia envolver-se emocionalmente com o objeto.
   8. Purismo (preocupação com o apuro da linguagem e correção gramatical).
   9. Vocabulário erudito, envolvendo utilização de palavras incomuns no linguajar cotidiano.
  10. Exotismo, com exploração de temas mais extravagantes.

        Principais autores e obras brasileiros

        Temos três autores considerados principais no Parnasianismo brasileiro, e que foram chamados de a "Tríade Parnasiana": Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.

    * Alberto de Oliveira: Canções românticas, Meridionais, Versos e rimas, Poesias.
    * Raimundo Correia: Primeiros sonhos, Sinfonias, versos e versões, Aleluias, Poesias.
    * Olavo Bilac: Via láctea, Sarças de fogo, Panóplias, Alma inquieta, O Caçador de esmeraldas, tarde.
    * Vicente de carvalho: Relicário, Poemas e canções, Rosa, rosa de amor, Ardentias.
    * Amadeu Amaral: Urzes, Névoa, espumas, Lâmpada antiga.
    * Martins Fontes: Verão, Volúpia, A flauta encantada.
    * Francisca Júlia da Silva Munster: Mármores, Esfinges.

        Texto

        A um poeta

        Olavo Bilac

        Longe do estéril turbilhão da rua,
        Beneditino, escreve! No aconchego
        Do claustro, na paciência e no sossego,
        Trabalha, e teima, e lima, e sofre e sua!

        Mas que na forma se disfarce o emprego
        Do esforço; e a trama viva se construa
        De tal modo , Qual a imagem fique nua,
        Rica mas sóbria, como um templo grego.

        Não se mostre na fábrica o suplício
        Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
        Sem lembrar os andaimes do edifício.

        Porque a beleza, gêmea da Verdade,
        Arte pura, inimiga do artifício,
        É a força e a Graça na simplicidade.

        (apud Alceu Amoroso Lima. Org. Olavo Bilac: poesia. RJ. Agir. 1980).

Questões para Interpretação.

   1. Esse soneto pode ser considerado uma receita para o parnasiano. Releia as características do movimento e justifique a afirmativa.
   2. Por que a obra deveria ser produzida "longe do estéril turbilhão da rua"?
   3. Que idéia lhe dá o último verso da primeira estrofe?
   4. Explique o significado da Segunda estrofe.
   5. Na última estrofe podemos dizer que temos o lema do Parnasianismo. Explique.
   6. Qual é o edifício a que o poeta se refere na terceira estrofe? Que seriam os andaimes?
   7. Analise o poema quanto aos aspectos formais.


AUTORES PARNASIANOS BRASILEIROS

1. Alberto de Oliveira

Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro em 1857 e morreu em 1937. Formou-se em farmácia, foi funcionário público e professor de português e literatura brasileira, estando entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras.

2. Raimundo Correia

Raimundo da Mota Azevedo Correia nasceu em 1859, a bordo de um navio, nas costas do Maranhão, e morreu em Paris, quando estava em tratamento de saúde, em 1911. Formou-se em Direito, foi magistrado, diplomata, professor e jornalista. Apesar de parnasiano, o melhor de sua obra está nos textos em que dá vazão à sua sensibilidade, chegando até a ser um pouco romântico.

TEXTO

A cavalgada

A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.

São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...

E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...

E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...

(In: Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos)

Interpretação

   1. Que características parnasianas você encontra no soneto?
   2. A que se refere o conteúdo do poema?
   3. Encontramos dados subjetivos na abordagem do tema? Justifique
   4. Compare o primeiro verso do soneto com o último. Que diferença você nota?

3. Olavo Bilac

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865 e morreu em 1918. Só conheceu o pai aos cinco anos de idade, pois este era médico cirurgião do Exército e encontrava-se na Guerra do Paraguai. Estudou medicina por cinco anos, mas não chegou a formar-se. Veio para São Paulo tentar o curso de Direito, que frequentou por pouco tempo. De volta ao Rio, dedicou-se ao jornalismo e à literatura, tendo exercido diversas funções administrativas e diplomáticas. Foi noivo da irmã do poeta Alberto de Oliveira, mas não chegou a casar-se. Rompeu relações também com o pai, o qual queria um filho médico e não um poeta e boêmio. Em 1915, pouco depois do início da I Guerra Mundial, iniciou campanhas cívicas em prol do serviço militar obrigatório e contra o analfabetismo.

Texto: Profissão de fé

Invejo o ourives quando escrevo:
    Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
    Faz de uma flor.

Por isso, corre, por servir-me,
    Sobre o papel
A pena, como prata firme
    Corre o cinzel.

Corre: desenha, enfeita a imagem,
    A idéia veste;
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
    Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
    A frase; e enfim,
No vaso de ouro engasta a rima,
    Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
    Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
    Sem um defeito!

Questões para Interpretação

   1. Por que o autor escolhe o trabalho do ourives para comparar com o trabalho do poeta?
   2. Que significaria para o poeta "vestir a ideia"?
   3. A que Bilac compara o trabalho com a rima?
   4. Qual o objetivo de todo esse trabalho?
   5. O que o poema traz em si do Parnasianismo?






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