Ao
lidarmos com textos argumentativos, seja na sua leitura, seja na sua produção,
devemos ter em mente que sua finalidade é defender uma tese. Esta é justificada
com base em argumentos construídos por meio de relações entre fatos, dados e
opinião. Essas relações, por sua vez, podem ser estabelecidas por meio de
variadas estratégias de argumentação, presentes, em especial, no
DESENVOLVIMENTO do texto. Dentre essas estratégias, podemos destacar algumas:
• Citação de autoridade – quando se
insere no texto a voz de algum especialista no assunto tratado, para reforçar a
ideia defendida.
• Exemplificação – quando se insere no
texto algum fato que reforce a ideia defendida.
• Citação de dados quantitativos –
quando se insere no texto algum dado, proveniente de pesquisas (dados
percentuais, por exemplo) que favoreçam a ideia defendida.
• Comparação ou confrontação – quando
dois fatos ou dados são analisados, em suas semelhanças e/ou diferenças, de
modo a favorecer a ideia defendida.
• Relações lógicas (causa/ efeito) –
quando são utilizados métodos de raciocínio lógico para relacionar fatos e
dados a suas causas.
Tendo esses conceitos em mente, você lerá a
redação a seguir, elaborada para o Enem 2005, cujo tema era a exploração do
trabalho infantil. Leia-a com atenção, observando as estratégias argumentativas
utilizadas, e depois responda às questões.
SAINDO MAL NA FOTO
O cenário é cruel. Os personagens, inocentes. A
causa é a mesma. Nos campos, nas minas e nos prostíbulos, a realidade de
algumas crianças ainda são retratos amarelados que as elites e a sociedade
brasileira tentam esconder em gavetas. Uma atrocidade social. O fato é que o
trabalho infantil representa o assassinato do futuro de pessoas sem passado.
Entretanto, infelizmente, para esse crime, retrato falado não há.
Primeiramente, é importante observar o reflexo da
desigualdade social do país na inserção da mão-de-obra infantil no mercado de
trabalho. Com a segunda pior distribuição de renda do mundo, o Brasil revela-se
um reprodutor das assimetrias sociais, na medida em que o não investimento em
educação implica a não qualificação dos pais e a má remuneração dos mesmos. Nesse
sentido, o trabalho infantil torna-se a saída encontrada como fonte de
complementação da renda familiar. Assim, a evasão escolar ocorre e o
país mantém sua mediocridade diante da criação de círculos viciosos de miséria,
abnegando-se de seu desenvolvimento.
Além disso, cabe ressaltar a função do Estado na
manutenção dessa triste realidade. Apoiado pela certeza da impunidade, o poder
público privilegia os interesses de grupos privilegiados tradicionais, ao
garantir a maximização dos lucros dessa minoria. A falta de mecanismos de
fiscalização e de monitoramento das leis constitui o incentivo à continuidade
do uso da mão-de-obra infantil, explorada por ser mais barata e menos
consciente de seus direitos. A infância é perdida em favor do capital.
Vale
analisar, ainda, a postura passiva da população diante de problemas distantes
da mesma. Citando Eça de Queiroz, "Dói mais uma dor de dente que uma
guerra na China". Nesse âmbito, o déficit educacional do país é o
principal culpado por esse crime. De fato, a não oportunidade de acesso a uma
educação baseada na transferência de valores ligados ao compromisso social e à
cidadania reflete a despreocupação da sociedade em relação ao outro. Dessa
forma, a tomada de iniciativa em favor do combate ao trabalho infantil é
prejudicada, e a maior vítima, além das crianças, é o próprio país, que assina
embaixo de sua condição como periferia.
O
trabalho infantil no Brasil apresenta sua face mais perversa, portanto,
na medida em que o Estado, a sociedade e até mesmo a família omitem-se de uma
postura mais ativa em prol da causa. Faz-se indispensável haver, em nível
estrutural, um combate à impunidade, além de uma reforma educacional, para
permitir a consciência nas urnas e nas ações individuais. Por enquanto,
a mobilização da sociedade civil por meio de ONGs e de pressão política é
necessária, a fim de que a fotogenia da realidade infantil não seja mais
uma farsa das elites.
QUESTÃO 1: O primeiro parágrafo do texto
introduz o TEMA tratado e, ao mesmo tempo, o delimita, isto é, indica que
aspectos específicos do tema serão abordados.
a) Qual foi a estratégia utilizada para
introduzir o tema?
b) Que aspecto do tema o autor escolheu
discutir?
QUESTÃO 2: Observe que o DESENVOLVIMENTO do
texto contém três parágrafos e que cada um deles é iniciado por uma frase que
apresenta o que vai ser discutido. Podemos chamar esse tipo de frase de “tópico
frasal”. Sabendo disso:
a) Identifique cada tópico frasal nos
parágrafos de desenvolvimento.
b) O que cada um desses parágrafos apresenta
como argumento em relação ao recorte temático feito na Introdução?
QUESTÃO 3: Identifique, no segundo parágrafo do
texto, um trecho em que o autor usa a citação de dado quantitativo como
estratégia argumentativa. Explique o efeito que o uso dessa estratégia confere
à argumentação.
QUESTÃO 4: Que estratégia argumentativa é
predominante no texto? Exemplifique.
QUESTÃO 5: Quais expressões foram utilizadas
para estabelecer uma ligação entre os parágrafos de desenvolvimento?
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