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VICENTE NELSON
BONS ESTUDOS!
Uma escola longe de nós: sobre o golpe na educação e as
ocupações
1.
O Golpe
na educação começou em 1964. A repressão aos professores, àqueles que tinham um
pensamento crítico, progressista ou simplesmente livre, foi violenta. Da
cassação à tortura, os professores foram humilhados de todas as formas.
Sobreviveram, mas sob as piores condições.
2.
Como
professora de filosofia, eu sempre disse aos meus alunos que eu só podia falar
o que falo, tratar de conteúdos críticos nas nossas aulas, porque não estávamos
mais na ditadura. Bom lembrar que a filosofia se tornou disciplina obrigatória
no governo Lula depois de o governo FHC ter evitado que ela retornasse ao
currículo do Ensino Médio.
3.
É sempre
bom saber quem apoia e de quem não apoia a filosofia na escola, porque ela é
uma parte essencial da formação das pessoas. A filosofia é importantíssima em
qualquer escola em qualquer tempo. Não é a toa que, dentre as disciplinas
humilhadas pelo sistema repressor, pela ditadura, a filosofia ficou sempre
entre as mais humilhadas. Justamente por dar muito poder às pessoas. Por
deslocar o sentido do poder, da força para a reflexão. O poder do pensamento,
da análise, da crítica, do questionamento que, por isso mesmo, ameaça os
poderosos e seus sistemas de verdades dogmáticas e prontas.
4.
Desde que
estamos vivendo esse novo golpe, esse golpe muito baixo, desde que o
autoritarismo usurpou o governo, estuprou a democracia e a lançou em coma num
quarto escuro da história, eu penso no que acontecerá com os professores de
filosofia que inevitavelmente fazem política ao lecionar em nome do pensamento
lúcido e crítico.
5.
Quem não
entendeu que a filosofia é uma política do pensamento, não entendeu nada de
filosofia. Mas isso é assunto para outro momento.
6.
A
profissão de ensinar, da qual qualquer pessoa poderia se orgulhar, é tratada
desde a ditadura militar, essa que ressuscita agora sem ajuda de militares,
como motivo de vergonha para muitos. Os professores são humilhados pelo
capitalismo por meio de salários cada vez mais baixos. Sabemos que uma das
armas do extermínio capitalista é o salário das pessoas. A dignidade fica
ameaçada quando, num contexto em que a materialidade da vida está ameaçada por
falta de condições, não se tem, por exemplo, dinheiro para pagar a conta de luz
e é preciso comprar um livro.
7.
A
educação é tratada desde a ditadura militar em sua aliança com o capitalismo
como algo supérfluo, como mercadoria, não como um direito das pessoas,
sobretudo dos jovens, mas como um luxo que pode adquirir aquele que pode tem
dinheiro para pagar. Espera-se de quem quer ser professor que seja herói ou que
desista e procure coisa melhor para fazer. No senso comum não se diz de um
professor que é alguém que não trabalha? É uma brincadeira de mau gosto, mas
ela expressa a estupidez do senso comum, cruel como o sistema econômico e
político que o administra por meio dos pensamentos prontos.
8.
Infelizmente,
muitas pessoas são lavadas por pensamentos prontos. Elas perderam a noção de
sociedade. Perderam a noção de ética e de política. Não imaginam que um projeto
transformador de país precisa de um projeto de educação transformador.
(Desvalorizar o trabalho intelectual é essencial para que a burrice vença de
vez. Bom lembrar que o trabalho intelectual é um trabalho concreto como outro
qualquer, exige esforço físico e psíquico, inclusive e muitas horas de
dedicação e produz materialidades. Mas isso também é tema para outra hora)
9.
A
repressão é promovida por indivíduos que agem em nome do sistema econômico e
político. Aquilo que para o indivíduo autoritário em sua versão fascista é uma
espécie de prazer em humilhar, para o sistema é certeza de lucro a curto, médio
e longo prazo. O sistema conta com esse sacerdote, essa pessoa que adere a ele.
Mas o projeto é sistêmico, não podemos culpar indivíduos.
10.
Nesse
contexto, o que se projeta é a privatização almejada pelas economias
neoliberais. Para quem não sabe o que é neoliberalismo, uma palavra muito usada
e pouco analisada, podemos usar uma definição básica: neoliberalismo é um
projeto de rebaixamento de tudo o que é ético e político ao econômico, de tudo
o que é humano à mercadoria. No neoliberalismo a sociedade tem que viver em
competição, e os que tem poder econômico devem vencer. Não há nenhum problema
em ser vencedor, e nenhum problema em ser vencido do ponto de vista neoliberal.
Por que os vencidos economicamente não contam no projeto de lucro geral. O
problema é deles se morrerem de fome, sem escola, sem saúde. Para que fique
tudo bem, a ideologia que se deve implantar é a do individualismo e da
meritocracia. E cada um deve acreditar que tem o mérito e a força – ou que não
os tem e desistir logo – e que pode ser melhor do que os outros. Deve também
pensar que direitos são inúteis e que o que realmente importa é o vigor pessoal
e a capacidade de competir.
11.
Falar
disso cruamente não seria bom para o neoliberalismo. Por isso, muito se irritam
com esse tipo de fala. O povo poderia se revoltar se soubesse que está marcado
para morrer aos poucos. Convenhamos, é uma morte lenta a que se produz pela
desigualdade. A morte rápida também ajuda. A morte de jovens negros e de
indígenas, de pessoas trans, de travestis, de mulheres, faz parte da
programação de matança geral dos indesejados para o sistema. No nosso caso ela
começou há muito tempo e persiste até agora. Além disso, o Brasil sempre foi
colônia e não perdeu esse dever inconsciente de servir ao estrangeiro que hoje
fica claro nas formas de entreguismo econômico cada vez mais radical. Mas sobre
isso também é preciso falar com mais tempo.
12.
No meio
disso tudo, os estudantes secundaristas em 2016 por todo o Brasil nos fazem ver
uma luz no fim do túnel. O que eles nos mostram é algo simples: se a educação
foi abandonada agora ela precisa ser ocupada. Ontem, como hoje, os estudantes
movem-se contra o golpe. Tentam salvar a educação salvando as escolas. Para
isso, usam uma tática pacífica muito atual chamada ocupação. A tática da
ocupação é corporal, territorial e geopolítica. Ora ocupamos aquilo que
queremos questionar, ora ocupamos aquilo que queremos salvar. A escola nunca
foi um paraíso, mas a ocupação dos estudantes, em qualquer tempo e lugar, tem o
poder de ressignificar a educação para eles mesmos, para os professores, para a
sociedade como um todo.
13.
Ontem fui
à Ocupação da Escola Clélia Nanci, em São Gonçalo. Escolhi ir até lá porque era
longe e fora dos circuitos mais acessíveis. A ocupação é sempre geopolítica e é
normal preferir acessos mais fáceis. Mas a educação é também uma metáfora e uma
“escola longe de nós” é mais ainda. Precisamos nos aproximar e para isso é
preciso deslocar.
14.
Eu quis
estar lá. Espero que eu tenha contribuído com aqueles estudantes heroicos que
lutam por sua escola, por sua instituição tão longe de quaisquer holofotes,
longe de atenções, ocultados pela grande mídia que atualmente faz o papel
anti-educativo de desinformar. Lá na Ocupa Clélia tivemos uma aula de filosofia
geral e de filosofia feminista com estudantes interessados e atentos. Éramos
poucos e, felizes, realizamos o diálogo filosófico. Para mim, inesquecível.
(Eles não
colocam o nome do autor do texto, mas apenas de qual site o texto foi baixado)
Autora desse texto é Márcia Tiburi, foi extraído do
site da revista cult.
QUESTÃO
01 – A
ditadura militar foi um período marcado por grandes repressões voltadas para
aqueles que não concordavam e não eram passivos diante do quadro político em
que o país se encontrava. De acordo com o texto, uma das formas de repressão
foi:
a) A perseguição aos partidos políticos formados
pela classe pensante da época, representados pelos professores de filosofia.
b) A cassação e a tortura de professores que
realizavam movimentos pró-democracia a partir de uma ideologia progressista e
libertária.
c) A perseguição aos professores
que se posicionavam por meio de pensamentos críticos, progressistas ou livres.
d) A discriminação e humilhação que os professores
sofreram pós-ditadura, e que foram marcados, sobretudo, pela intensa cassação e
processo de exílio frequentes.
e) A redução dos direitos e prerrogativas
conquistadas pelos professores no período do regime militar.
QUESTÃO
02 – De
acordo com o texto, o fim do golpe militar de 1964 pode ser visto, entre outros
fatores, com:
a) A liberdade em se trabalhar com
conteúdos críticos dentro de sala de aula.
b) A inserção da disciplina de filosofia ao
currículo do ensino médio concedida pelo governo FHC.
c) O amplo acesso à escola e ao ensino de
qualidade.
d) A inserção da disciplina de filosofia em escolas
públicas como disciplina complementar ao ensino médio.
e) As conquistas alcançadas pelos professores
relacionadas ao salário e plano de carreira.
QUESTÃO
03 – O
texto afirma que dentre as disciplinas humilhadas pelo sistema repressor, pela
ditadura, a filosofia ficou sempre entre as mais humilhadas, isso porque:
a) A filosofia trata de conteúdos críticos que
instigam e propagam a rebelião e ódio ao sistema governamental.
b) A filosofia é uma das maneiras que reforça e
complementa a formação das pessoas.
c) A filosofia concede às pessoas o
poder relacionado ao pensamento e à reflexão.
d) A filosofia dá força para reflexão e para o
estabelecimento de verdades prontas que ameaçam os poderosos.
e) A filosofia leva ao pensamento crítico, à
análise e ao questionamento e, que consequentemente, implanta verdades
dogmáticas que vão de encontro ao sistema político e econômico.
QUESTÃO
04 – Apesar
do fim da ditadura militar, o texto afirma que a educação enfrenta uma nova
forma de opressão que pode ser vista com:
a) A nova implantação da ditadura de em forma de
autoritarismo que está reprimindo os professores de filosofia por utilizarem a
sala de aula como palanque político.
b) A ruptura da filosofia definida como a
disciplina do pensamento livre e consciente para ser conceituada como a
política do pensamento.
c) O rebaixamento da profissão de
ensinar em que os professores são humilhados de várias formas, como por meio de
salários cada vez mais baixos.
d) A repressão e a censura em que a mídia está
subjugada, sendo utilizada como ferramenta e porta-voz pelos educadores
“antidemocracia”.
e) A substituição da democracia pelo capitalismo
que levam aos docentes a condições miseráveis de sobrevivência.
QUESTÃO
05 – De
acordo com as ideias do texto, a educação de acordo com o sistema capitalista:
a) É vista como algo intransferível, e que só é
possível realizar através de meios econômicos.
b) Representa altos gastos pelo governo, o que leva
a uma inversão de valores.
c) É vista como um bem econômico
adquirido e não como uma garantia para todos.
d) É vista como um direito conquistado por todos,
mas que ainda é um luxo para muitos.
e) É a saída para profissionais da educação
alcançarem um lugar digno na sociedade.
QUESTÃO
06 – O
texto apresenta uma das afirmações proferidas pelo senso comum sobre os
educadores, em que:
a) O professor é visto como o responsável pela
transformação de um país.
b) O professor é aquele que se sacrifica para ser
recompensado pelos frutos de seu trabalho...
c) O trabalho do professor envolve apenas esforço
intelectual e psicológico.
d) O trabalho do professor é visto
como algo banal e sem necessidades de esforços significativos.
e) O professor é visto como um herói que se esforça
a ponto de não desistir pelo que faz, ainda que sob as piores condições.
QUESTÃO
07 – O
texto aponta que a repressão é marcada por ideias de cunho econômico e
político, em que:
a) Destaca-se pela tríade: fascismo – educação –
sistema vigente.
b) Possui dois fatores que se
comungam: o indivíduo autoritário em sua versão fascista e o sistema.
c) É alimentado por ideologias socialistas e
totalitárias.
d) As ideologias fascistas são aderidas pelo
sistema vigente.
e) A repressão é antissistêmica e é marcada por
atitudes de indivíduos que agem em favor do fascismo e do anarquismo.
QUESTÃO 08 – De
acordo com o texto, o Neoliberalismo:
a) Trabalha com a privatização
das escolas.
b) É caracterizado pela inserção
de tudo o que é político e ético à mercadoria.
c) Defende a competitividade
entre as classes sociais como fator de ascensão social para os menos
favorecidos.
d) Baseia-se
no individualismo, no mérito e na competência como fatores decisivos para
ascensão e sobrevivência na sociedade.
e) Defende aqueles que são
vencidos economicamente e os que não contam no projeto de lucro geral.
QUESTÃO 09 – Apesar
de golpes e repressões contra a educação, há movimentos que procuram resgatar o
seu valor. De acordo com o texto, esse movimento:
a) Está relacionado com a
construção de escolas em lugares de periferia, apresentando-se como porta de
saída para alunos que vivem na miséria.
b) Refere-se
à iniciativa de estudantes que buscam salvar as escolas por meio de uma ação
chamada Ocupação.
c) Ressalta a ressignificação
dada por professores sobre o ato de educar, que ganha outras formas
relacionadas ao aspecto corporal, territorial e geopolítico.
d) Trabalha com a tomada e a
resistência na permanência em escolas que foram abandonadas, promovendo a
ressignificação da educação para alunos e professores.
e) Está relacionado com a
iniciativa de professores em lecionar aulas em lugares menos acessíveis e longe
dos holofotes da mídia.
QUESTÃO 10 – O
advérbio, como palavra modificadora, pode referir-se a um verbo, advérbio,
adjetivo ou a uma declaração inteira. Analisando as frases abaixo, qual é a
alternativa em que o advérbio faz referência a uma declaração inteira?
a) Fernando escreve bem.
b) José é um bom escritor.
c) Paula escreve muito bem.
d) Felizmente
Fernando chegou.
e) Letícia lê pouco.
QUESTÃO 11 – Em qual
das afirmativas abaixo é possível aplicar a palavra espirava atentando para o seu significado?
I. Ele ____ indevidamente durante
os exercícios de ioga.
II. Sua forma de ser ______
ânimo.
III. Depois do acidente, ela
ainda ______.
Estão corretos apenas os itens:
a) I e II.
b) III.
c) I e III.
d) II e III.
e) I, II e III.
QUESTÃO 12 – Em qual
das palavras abaixo o sufixo grifado remete à ideia de lugar?
a) covil
b) Laranjal.
c) Mulherio.
d) Parentalha.
e) Anglicano.
QUESTÃO 13 – Qual o termo grifado nas
alternativas abaixo pode ser classificado como adjunto adnominal?
a) Quebro-te o braço.
b) A sandália.
c) Quatro moedas.
d) Paula tem vontade de vencer.
e) Aquele homem.
QUESTÃO 14 – Em qual
das orações abaixo, a palavra que
está exercendo a função de predicativo?
a) Somo o que somos.
b) O menino que lê se informa.
c) O remédio de que tenho necessidade é caro.
d) O pincel com que escrevo não está bom.
e) A pessoa a que entreguei o presente
esqueceu no chão.
QUESTÃO 15 – Em qual
das palavras abaixo a escrita da palavra se dá por razões etimológicas?
I. Haver;
II. Hélice;
III. Hidrogênio.
São corretos apenas os itens:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e III.
e) I, II e
III.